Embora ela acordasse cedo todos os dias, nada a impedia de dormir tarde, como uma adolescente.
Às 7hrs, com o vigésimo toque de seu despertador ela se encolhe embaixo das cobertas, tentando negar que já é hora, é dia, é trabalho. Se encosta em sua companhia como numa lamúria de socorro, “mais cinco minutos”, que compadece sempre em um equilíbrio de preguiça e cansaço.
É engraçado olhá-la assim, de fora, levantando descabelada e procurando a calça, numa pilha de roupas usadas, ainda no escuro. Apesar de costumar apontar o dedo para si mesma e sempre falar de suas manias de organização, ela é intensamente bagunçada.
Enquanto faz o café, o chá, o leite de soja com Nescau, já que sua intolerância a lactose lhe fez repudiar o leite.
Com toda a sua força, em suas roupas amassadas, para combinar com o rosto marcado pela baba que secou depois da longa-curta noite de sono, ela se arrasta para o banheiro, o choque térmico da água fria em sua pele recém-nascida do conforto de sua cama é a única forma de acordar.
Um gato acinzentado, com olhos banhados em âmbar a encara curiosamente e solta um uníssono de miados num pedido manhoso de “volta para cama”.
Como de costume, ela abaixa e ainda com as mãos molhadas acaricia o pequeno mascote, vai até o quarto e questiona a outra, que ainda em negação mantém sua cabeça em baixo das cobertas.
— Vai querer café?
— Sim — ronrona a mesma, que frequentemente acorda sem voz.
E ela se volta vagarosamente a cozinha, para iniciar um novo velho dia.