eu pensei: que eu grite
crie
copie
e derrame toda a água
contaminada, por tocar tanto medo
desordem, caos e autopoluição;
que perdeu seu caminho do rio e vida para o córrego.
Então, não gritei!
Sacudi o pó, do asfalto, do tempo e do meu auto descaso
comprei cocaína na drogaria às 3 pm.
Limpei todos os armários da minha casa, ganhei 2 kg de massa muscular
e deixei a sombra muda das fobias sociais
floresci funcionário do mês
da mesma raiz que nascia as folhas de sonhos, que caíam num eterno outono
crescendo em todas as horas que cabem em um mesmo dia, que nunca acaba
Aos 12 anos sonhei com um apartamento em New York
aos 15 comprei uma guitarra, e cantei com toda capacidade do meu fumante passivo:
“não serei como vocês”
depois
escola, faculdade, trabalho, otimização do tempo
que corre, que acaba, e se derrete
como o suor, do meu último dia de verão,
há 5 anos.
Eu estou olhando para trás,
quando fui que esqueci o caminho que emociona as rodovias que levam festa ao meu peito?
Hoje, ontem, amanhã e depois
eu corro
como o Rio São Francisco desaguando no mar,
sou um dilúvio, em perturbação
tão sujo
suja
confusa
pois assim como o homem matou o rio, em seus excrementos
vendi minha alma, ao demônio,
não o cristão,
mas o que mata
polui e gera
o prêmio
do dia que as raízes caíram, com o genuíno inverno
aos vinte e tantos,
sou como vocês,
lamuriando a mesma canção
funcionário do mês.
